Perguntas-me pelos outros .... nem sei como te responda!
Passei pela guerra, pelo menos duas, uma mais invisível e a segunda muito declarada e desorganizada, para além de curta para mim. Fico surpreso como na altura tudo me pareceu natural, a mente quase se adapta e aceita com ligeiros questionares de receios, medos, dúvidas, muitos recaindo sobre os caminhos a tomar de aqui para ali, sobre o lugar onde jantar, se na sala habitual ou na dispensa por ser o lugar mais interior da casa e menos exposto, andar sempre baixo fora do alcance das janelas e das balas perdidas.
... Quero responder-te e não sei por onde começar, quero tirar de dentro de mim a dor que sinto quando oiço ou leio a palavra "colateral". Colateral? a que? a uma guerra feita de armas capazes de destruirem TUDO num raio de 30, 40 mts «com precisão total e destroem tudo o que encontram», armas capazes de perfurar paredes e explodirem retardadas «para causar o maior numero de mortes ao inimigo!» em que a tecnologia desenvolvida para nosso bem é simultâneamente usada para nos aniquilar.
Quero responder-te sobre os outros ... os outros de que ninguém, ou quase ninguém fala. Quero responder-te pelos "mudos". Gostava de ser capaz, porque as armas e guerra que enfrentam, não se reflecte na minha dispensa, porque as Kalashnikow e as G3 eram a "Idade da Pedra" de hoje. Não me admira os outros 2 milhões de refugiados, nao me admira os refugiados e deslocados internos, mas muito menos me admira o número de mortos civis que está a atingir os 90.000 ( fr. http://www.iraqbodycount.org/).
Preferia responder-te dos que estão vivos ... que transformam o dia a dia numa roleta-russa, que são obrigados a movimentar-se permanentemente para obter trabalho ou os bens mínimos de subsistência, dos que receiam chegar ao fim do dia sem voltarem a ver os seus, vivos ... prefiro falar-te de cada um dos pequenos heróis que ainda são capazes de brincar e sorrir, prisioneiros das circunstâncias e da cegueira do fanatismo nas suas várias vertentes, na sua própria rua, no seu bairro, na sua cidade, mesmo sabendo não haver protecção contra nada, dia ou noite ...
Preferir mesmo, preferia não estar a responder-te sobre os outros ... pela simples razão de que não existiam, preferia falar-te dos pequenos heróis por quererem e terem escola todos os dias mesmo que, tivessem que "calcar" kilometros de areia para lá chegarem ...
Preferir mesmo, prefiro pensar que, como eu, "a mente, quase se adapte e aceite com ligeiros questionares de receios"
Ainda conforme os "Senhores da Guerra" «It is the ‘price to pay’, the ‘sacrifice’ that has to be made as we fight terrorism, the ‘cost’ of this war against evil forces. That is what we say to justify these killings. But those of us who speak of this price to be paid, this sacrifice to be made, do not pay this price, do not make this sacrifice.» Sem mais comentários que não este. Como é possível alguém se ARROGAR a este ponto?
Pelos OUTROS, como lhes chamaste, pelos 4.000 e por muitos que diáramente se deparam com o inimaginável, temos que iniciar a MUDANÇA, urgente!!
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27 March 2008
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1 comment:
Obrigada!!!!
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muito.
curvo-me!
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em nome de todos os "Outros".
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abraço.
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