29 March 2008

Amazing Universe


Mais uma maravilhosa imagem do fantástico Universo que pode ser vista no APOD. The Cat's Eye Nebula
Bom fim-de-semana.

27 March 2008

Perguntas-me pelos outros ....

Perguntas-me pelos outros .... nem sei como te responda!

Passei pela guerra, pelo menos duas, uma mais invisível e a segunda muito declarada e desorganizada, para além de curta para mim. Fico surpreso como na altura tudo me pareceu natural, a mente quase se adapta e aceita com ligeiros questionares de receios, medos, dúvidas, muitos recaindo sobre os caminhos a tomar de aqui para ali, sobre o lugar onde jantar, se na sala habitual ou na dispensa por ser o lugar mais interior da casa e menos exposto, andar sempre baixo fora do alcance das janelas e das balas perdidas.

... Quero responder-te e não sei por onde começar, quero tirar de dentro de mim a dor que sinto quando oiço ou leio a palavra "colateral". Colateral? a que? a uma guerra feita de armas capazes de destruirem TUDO num raio de 30, 40 mts «com precisão total e destroem tudo o que encontram», armas capazes de perfurar paredes e explodirem retardadas «para causar o maior numero de mortes ao inimigo!» em que a tecnologia desenvolvida para nosso bem é simultâneamente usada para nos aniquilar.

Quero responder-te sobre os outros ... os outros de que ninguém, ou quase ninguém fala. Quero responder-te pelos "mudos". Gostava de ser capaz, porque as armas e guerra que enfrentam, não se reflecte na minha dispensa, porque as Kalashnikow e as G3 eram a "Idade da Pedra" de hoje. Não me admira os outros 2 milhões de refugiados, nao me admira os refugiados e deslocados internos, mas muito menos me admira o número de mortos civis que está a atingir os 90.000 ( fr. http://www.iraqbodycount.org/).

Preferia responder-te dos que estão vivos ... que transformam o dia a dia numa roleta-russa, que são obrigados a movimentar-se permanentemente para obter trabalho ou os bens mínimos de subsistência, dos que receiam chegar ao fim do dia sem voltarem a ver os seus, vivos ... prefiro falar-te de cada um dos pequenos heróis que ainda são capazes de brincar e sorrir, prisioneiros das circunstâncias e da cegueira do fanatismo nas suas várias vertentes, na sua própria rua, no seu bairro, na sua cidade, mesmo sabendo não haver protecção contra nada, dia ou noite ...

Preferir mesmo, preferia não estar a responder-te sobre os outros ... pela simples razão de que não existiam, preferia falar-te dos pequenos heróis por quererem e terem escola todos os dias mesmo que, tivessem que "calcar" kilometros de areia para lá chegarem ...

Preferir mesmo, prefiro pensar que, como eu, "a mente, quase se adapte e aceite com ligeiros questionares de receios"

Ainda conforme os "Senhores da Guerra" «It is the ‘price to pay’, the ‘sacrifice’ that has to be made as we fight terrorism, the ‘cost’ of this war against evil forces. That is what we say to justify these killings. But those of us who speak of this price to be paid, this sacrifice to be made, do not pay this price, do not make this sacrifice.» Sem mais comentários que não este. Como é possível alguém se ARROGAR a este ponto?


Pelos OUTROS, como lhes chamaste, pelos 4.000 e por muitos que diáramente se deparam com o inimaginável, temos que iniciar a MUDANÇA, urgente!!


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24 March 2008

Aos 4.000 sacrifícios no Iraque



O vento passa a rir, torna a passar,
Em gargalhadas ásperas de demente
E esta minha alma trágica e doente?
Não sabe se há-de rir, se há-de chorar?

Vento de voz tristonha, voz plangente,
Vento que ris de mim, sempre a trossar,
Vento que ris do mundo e do amar,
A tua voz tortura toda a gente!...

Vale-te mais chorar, meu pobre amigo!
Desabafa essa dor a sós comigo,
E não rias assim!...Ó vento, chora!

Que eu bem conheço, amigo, esse fadário
Do nosso peito ser como um Calvário
E a gente andara a rir pela vida fora!...


Florbela Espanca

11 March 2008

Poema de Amor

O texto abaixo é reproduzido"sic", de uma Carta de Amor transformada em e-mail para os amigos e conhecidos. Com a devida autorização, retirado o apelido comum e sem mais comentários, aqui vai.


«Olá companheiros pedagogos de pré-adolescentes e candidatos a,

Ontem à noite estava a rever o teste de Português do João e a tentar entender porque é que tanto esforço tinha resultado num miserável 56%.

Perguntas de interpretação respondidas em formato telex? mas não tinhamos praticado oposto mais de 500 vezes????

Ausência de consciência de qual era o papel do narrador naquele texto????

No final a surpresa... uma composição que garantidamente o salvou da negativa e também da minha fúria e frustração.

Ultimamente sinto que nado,nado,nado, e quase que morro na praia.

Eis senão quando, uma surpresa tão gratificante!

A composição do teste visava desenvolver uma história baseada num excerto dum texto (excerto de Arroz do Céu - José Rodrigues Miguéis).

Muito resumidamente, o texto contava a história de um limpa-vias que trabalhava no metro de NY (subway) mais um imigrante de Leste que mal falava inglês.

Sem qualquer contacto com a realidade do que se passava acima dos respiradouros do metro, somente sabia que entre o lixo qe lhe cabia apanhar, chovia arroz do uptown, chovia o arroz que era atirado aos noivos que casavam na igreja situada sobre o subway, e que o alimentava a ele e à família.

Basicamente, o texto ilustrava a condição humana e as desiguladades sociais,etc,etc.

Passo-vos na integra o texto da composição feita pelo João.

Antes ainda, e citando o meu poeta favorito (até porque não conheço muitos)

Tudo vale a pena quando a alma não é pequena


Estava o limpa-vias num pacato dia de trabalho, quando na parede do "subway" vê um cartaz a dizer" Procura-se empregado para biblioteca. Pagamos bem." Ao ver isto, o limpa-vias assentou o numero num bloco de notas que encontrara no chão, meio molhado, e foi para casa a pensar nisso.
No outro dia, levantou-se, tomou banho ( o que é raro ) e foi para o sítio indicado. Antes disso, visitou um amigo para lhe perguntar algumas palavras que supostamente iria utilizar. O amigo, ao ver que ele se ia formar, ficou contente, porque também ele era emigrante e até à actualidade trabalhava numa caixa de supermercado.
O limpa-vias, ao chegar lá, deparou-se com uma fila enorme de pessoas , incluindo outros emigrantes e pessoas que tinham sido despedidas depois de uma carreira e agora aceitavam todo o tipo de trabalho que encontravam.
O limpa-vias, ao ver aquelas pessoas todas, chocado disse:
- Sou um mero emigrante aqui, mas tenho trabalho, até posso ser uma espécie de analfabeto, mas tenho honra.
Ao dizer isto, foi-se embora e desejou que alguém conseguisse alguma coisa dali, uma pessoa que necessitasse mais daquilo do que ele.

João P.
10/3/07

Hoje quando chegar a casa, sei que vai continuar a incomodar-me o pé debaixo do "rabo" a meio metro da mesa, sorvendo o espargeuete em vez de o enrolar no garfo, pousando o cotovelo em cima do guardanapo imaculado contrastando com os cantos da boca pejados de molho de tomate, os vestígios denunciadores das bolachas comidas no local mais proibido da casa, a sala, as meias que nascem de entre as almofadas dos sofás, a medalhas do descuido pela roupa toda todos os dias, os recados da escola perdidos, a matéria para os testes não apontada, os sacos do lanche retirados da mochila no Domingo à noite verdes de mofo, o quarto em estado sempre pós tufão, as embalagens vazias de oreo coladas às calças, os dentes desesperadamente mal escovados, a pasta dos dentes espalhada pelos cantos da boca quando já descemos no elevador e não temos água para disfarçar, as inúmeras tshirts da ginástica perdidas...

Mas vou mais feliz, porque poderei não estar a criar o homem mais cuidadoso, mais organizado, melhor aluno, mais atento do mundo, mas estou a alicerçar um rapaz que já aflora bons princípios, solidariedade e muita sensibilidade.

Hoje acho que vou gritar mais baixinho, e prometo que vou mesmo aprender a não gritar e a reduzir substancialmente a aquela observação tão cruel que sai tantas vezes "desculpa!!! mas tu não podes ser normal!!!!.

BJS

Anabela P.»