Em 18 anos de andanças, presenças, umas mais extensas que outras, contactos com serviços sociais dedicados à protecção de crianças, conseguimos ficar com uma pequeníssima ideia, muito leve mas, com uma imagem criada pelas diversas situações em que se intervem ou se contacta. Quando se discute o aborto e as condicionantes em que pode legalmente ser uma opção, se grita de um lado e do outro os upsides e downsides da questão, torna-se tudo um mundo quase à parte, eu diria mesmo desfazado da realidade. Daí que, em consciência não consiga chegar a uma conclusão clara, nem sei se alguma vez chegarei. Quero, no entanto, deixar claro que esta opinião nada tem a ver com a questão do aborto, ou terá?
Existe uma pergunta que se me aflora, cada vez que que se chega ao tema adopção e que sistematicamente abtém respostas anacrónicas, de justificação duvidosa. Uma das condicionantes ao processo de adopção é, a não escolha à priori, da criança a adoptar. Estou em completo acordo se se contemplar a adopção vinda de alguém que se candidata e quer definir à partida o tipo, côr, côr de olhos, etc, etc.
Mas se, quando o desejo de adopção vem do facto de se terem criado as condições naturais entre pessoas que se foram conhecendo, aproximando, gostando e unindo ao longo de um período de tempo, proporcionado por exemplo, por um serviço de voluntariado? Nessa altura, aquilo que levou dois seres a reconhecerem-se, a entregarem-se e a aproximarem-se naturalmente, criando os laços afectivos , aqueles que realmente interessa, aqueles que quando não acontecem, geram as adopções falhadas, altamente problemáticas, altamente penalizantes para a criança e algumas vezes para os pais adoptantes, DEIXA de ser importante, não é possível ou usável como factor positivo. Passa a empecilho na hipotese dos pais (pai ou mãe) adoptivos quererem adoptar aquele ser, em que o sentimento de AMOR é mútuo.
Não convirá mudar alguma coisa mais à Lei de Adopção?
Mas pouca gente refere as crianças devolvidas ( sim, devolvidas) porque «não era bem isto que queríamos!», « já não aguentamos mais!» e muito provavelmente um rol de outras razões que nos deixariam boquiabertos. Isto porque foi tudo feito de acordo com a lei, a justiça, as milhentas análises psicológicas, comportamento, elegibilidade dos candidatos, muitos chás e bolachinhas, controlados por um exército de gente valorosa e com muitos cursos, algumas vaidades e projecções, transferências e auto-satisfações.
Por outro lado, temos que reconhecer muito especialmente, todos e são ainda muitos, os que se dedicam de alma e coração aberto a defender na realidade as crianças, os seus direitos, o seu bem-estar e conforto.
.para continuar.
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30 January 2007
22 January 2007
SER Criança
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Andar a olhar o céu e a encantar-me pelas estrelas, não me afasta da realidade actual, aquela que mais directamente nos toca e nos envolve, os infimos milésimos de átomos que somos neste Universo. Tão ínfimos, tão milésimos e enésimos que, somos parte fundamental, cada gesto, cada movimento, cada pensamento, cada desejo, virá certamente a reflectir-se como um "efeito borboleta", em tudo, em todos. Daí que, cada palavra, cada gesto, cada movimento, deverá conter em si, aquilo que queremos dar e transmitir ao Universo. Gosto e sinto-me confortável do lado de cá, do lado das perguntas, do lado do sentir emocionado, do lado nem sempre correcto, do lado que por vezes fala mais com o coração do que com a razão, mas sempre sentindo que a "razão" nem sempre está do mesmo lado da razão. Muito em especial quando se trata de crianças. Aí a emoção e sentir ganham lugar, sem espaço para negociações, e com a flexibilidade resunida aos interesses da criança.
Como diria um GRANDE Amigo, homem de inúmeras responsabilidades nesta área, há gestos quase incompreensíveis para o comum de nós e que são ENORMES gestos de AMOR para quem os pratica. Uma mãe que, altruísticamente, entrega o seu filho a outros, pela única razão que não pode, não consegue dar-lhe aquilo que considera um mínimo, está a DAR-se, está a entregar e a possibilitar ao seu sangue, carne da sua carne, a possibilidade de ter e poder ter ainda mais oportunidades, aquelas que considera serem o mínimo de uma vivência com mais qualidade, mais conforto, mais oportunidades.
A chamada "razão", a justiça, não sente, não vê, quer-se cega, quer-se imparcial.
Imparcial? Imparcial quando se julga o futuro de alguém que vai crescer? Quando se decide por esta ou aquela via sem se analisar os detalhes, as sensibilidades, aquilo que realmente interessa à criança? E iludem-se esses decisores dizendo que o fazem em nome da crainça. Estamos fartos de ver essas crianças devolvidas às famílias biológicas para terminarem em hospitais e morgues, depois de serem vítimas de torturas para além de qualquer imaginação que possamos ter.
Choramos as situações que nos aparecem nos media, lamentamos-lhes a sorte e viramos a cara para o outro lado e seguimos, continuamos a eterna fuga para a frente, deixam de falar nisso nos media, arrumamos nas nossas memórias e escondemo-nos das consciências, seguimos, continuamos. Fazemos mais leis, debitamos discursos condoídos, mostramos o brilhinho nos olhos, criamos mais uma comissão, redigimos mais umas leis para somar aos milhares que já existem, alguém ractifica, limpámos a consciência e seguimos "em frente". Falo em NÓS, porque somos nós e aqueles em quem votamos sem qualquer projecto definido, claro e explícito.
Digo eu que deve bastar, devemos parar, pensar em conjunto, analisar todo o processo que diz respeito a abandonos, maus-tratos, adopções, condições para adopções, prazos de processos a decorrer na justiça, tribunais de família especializados. Tudo isto por muitas razões, a primeira das quais as de CADA CRIANÇA, imediatamente a seguir o futuro, o deles, o nosso, o de todos, o respeito por cada um deles, o respeito por todos nós. É tempo de parar, de dizer basta e de actuar.
Para continuar ...
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