06 December 2006

E foi um longo caminho, desde aí!

Espaços Vazios

Vim de longe, de onde não sei, mas de mim foi.
Sentado de encontro à ombreira da porta,
deslizando o olhar para dentro deste quarto
inspirando o cheiro daqueles a que se destina.

Fico aqui, quase vazio, imaginando como teria sido,
ter tido outro tipo de desejos e valores
que me tivessem permitido ouvir e ver a cor
dos sorrisos tirados do mais simples olhar de ternura.

O cheiro, esse sentido apurado, mostra
o caminho á minha recordação, que sem esforço
e em definitivo me transporta para um mundo
que já hoje me parece doutro, tão longe está.

O sentir, esse fica e perdura em cada sopro e cada gesto,
em cada espaço. Fixo o olhar e sonho ... com risos, gritos,
saltos e abraços feitos de impulsos de ternura,
onde o corpo assume a voz e fala dando de si e do todo.

A dúvida, companheira do sentir, faz passar
diante de mim imagens fugazes daquilo
que poderia ter sido, do sonho que foi,
de que possivelmente é, do que poderá vir a ser.

Não quero certezas, não procuro explicações por sobejas
e mutáveis, como incertas e inconsistentes, tanto como
cada um de nós, actores, deste palco de expressões
e frases, de gestos e olhares, de olhos que se afastam da boca

... e do corpo que insiste em desmentir os dois. Fico! Sou! Serei!

“M.C.”
2000

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