10 December 2006

Repose à ma tendresse ...

Incondicional


Broto desenvergonhado, corro, lento
em murmurios, crepito ao rasgar,
suave, sem esforço me estendo à natureza,
me entrego, corro suave! Nada peço,
aceito, tomo, deslizo, junto-me, aceito! O mais, aceito!
Agora cresço alargo margens, inundo, ganho rapidez,
toco notas em oitavas de pedras e de mim feitas,
ao sabor do caminho. Navegas em mim ao sabor da corrente,
jorro caudais de prazer, banho e sou banhado.
Transformei-me num caudal imenso, nutro
e sou nutrido, alimento, dou de mim e
recebo para mim, nada pedindo, dou, nada exijo,
recebo!

Sou reflexo de tudo, das formas mais criativas,
ondulo suave e brando, transformo-me,
recrio-me a cada instante, em torrentes
fortes, inundantes, abro caminhos nas pedras,
sem guardá-las, antes libertando-me.
Caio em cascatas ruidoso, borbulho, rodopio,
liberto-me irreverente, abrindo-me para o
amanhecer, o dia de sol, a noite cálida.
O nascer-do-sol cumprimenta-me, aquece-me,
abraça-me enchendo-me de actividade e vida
e eu transporto os seus raios pelo dia até que
se despeça, porque regressa sempre para me
confortar.

Sou onde buscam a força, desaguam as máguas,
pensam esperança, sempre correndo, sempre
renovado e renovando, olhando em frente o,
curto que me é dado ver, o próximo passo,
a curva, o verde, sem querer pensar o que está
para lá disso. Nada peço, senão o meu espaço,
a liberdade de seguir ao meu ritmo, de ser,
de estar, de correr, abrandar, saltar, sussurrar,
estremecer, cheirar, sentir, de criar em mim,
de me encher das pétalas e folhas que me oferecem,
dos musgos das florestas e campos abertos que
me acompanham, os portos-de-abrigo que em mim,
constroem.


Muitos vêm às minhas margens, alguns
navegam em mim, nutro, sou nutrido.
Transporto momentos de cada momento, fugazes,
sou transparente por vezes, outras menos, mas
sempre rico de oferendas aos que cruzam o seu olhar,
aos que me tocam, que deixam que os toque,
que em mim habitam, que guardo, cumplices
nos prazeres que me devolvem. Toco as margens,
chamando devagar, lembrando que ali estou,
para que não te esqueças, saibas que sim, estou,
sou, até desaguar em ti, enchendo o teu mar de
mim e tudo te entregar. Porque nada pedes,
antes aceitas e vives o Amor que desaguo em Ti,
Incondicional!

“MC”

2 comments:

José António Barreiros said...

Meu caro,
obrigado pela visita!
Obrigado pela citação.
Gostos em comum e a memória de um tempo de que guardo a nostalgia do que já foi.
Parabéns pelo blog e pelo que fez de si!
Um abraço
jab

Anonymous said...

será um rio, ou A propria fonte da vida?