17 November 2006

Hoje vi a Bárbara

Sons dissonantes que se transformam em desarmonias melodiosas, mestria de notas, repetidas em cadências quase militares, impõem-se por si , em criações sobre uma nota só, variações de temas repetidos à exaustão, trazidos vencedores ao bailado de adagios soberbos, andante quasi cantabile, que brotam serpenteantes e que crescem repentinamente. São agora allegro vivaces, troppo, troppo, troppo ... brutos, doces, ásperos, com contra-pontos angustiantes, rasgados pelas cerdas de arcos nas cordas que se lhes opõem, que se substituem, os metais abrem espaço para onde tudo transborda e onde quase tudo chega, onde se encontra, da suavidade ao ponto em que todos quase já não se sustêm na vibração no interminável crescendo, em extase, para se deixarem depois escorregar, exaustos, mudando de atitude, ou quando não suportando mais, se calam de repente, suspensos no ar da sala, na pele, nos ouvidos que assim sentem o desejo aumentar, pedindo mais e mais. E o piano que insiste em ser tudo, em dar tudo. Doze músicos, dezasseis instrumentos de prazer, fortes, marcantes a dar todas as oitavas. E hoje vi-te Bárbara. Hoje vi a Bárbara, vibrante como a música. Estavas lá, a ouvir o Michael Nyman.

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